Se você esta sintonizado com o que acontece na música alternativa do nosso país nos últimos vinte anos, certamente o nome The Cigarettes soa mais do que corriqueiro a você, afinal Bingo, o debute do grande Marcelo Colares e do Cigarettes tornou-se um marco fundamental no submundo dos bons sons nacionais.
Obviamente que unanimidade é algo basicamente inexiste, afinal nem o VU conseguiu isso, mas para os que não gostam ou não querem gostar, o TBTCI apenas diz, paciência, quem perde são vocês, mesmo porque depois de 20 anos e agora quatro álbuns, todos sempre com o selo de qualidade Midsummer Madness e logicamente, o padrão Colares de criação e composição, fica claro e notória a importância do The Cigarettes para os novos desmembramentos, vide sua influência na nova geração ruidosa do país.
E há questão de poucos dias atrás veio ao mundo The Waste Land, novíssimo e delicioso disquinho do Cigarettes. Ainda não ouviu? Vish, conselho do TBTCI não perca muito tempo não, é perfeito pra embalar passeios, curtir o sossego do lar, ou indicado ao que você mais quiser.
Aproveitando o lançamento de The Waste Land, nosso camarada Colares trocou uma ideia aqui com o TBTCI e tardiamente debute nestas páginas.
Tipo, momento clássico no TBTCI.
***** Interview with The Cigarettes / Marcelo Colares *****
Q. O Cigarettes é um referência pra muita gente que era moleque nos 90´s e até os dias de hoje existe um culto ao redor da banda, como você avalia todo esse cenário?
MC: Eu acho que a experiência do Cigarettes dentro desse "cenário nacional" é muito bem sucedida. O tempo, como dizem, pode ser o melhor remédio. Uma banda com mais de 20 anos que tem um público muito especial e que se lembra de músicas que foram lançadas há mais de 20 anos como se realmente essas músicas fizessem parte de suas vidas...
Quantas bandas ou artistas conseguem isso?
Q. A história do Cigarettes se mistura facilmente com a história da cena alternativa no Brasil, conte um pouco da história da banda, como tudo começou? Influências, etc, etc..
MC: As influências iniciais foram as que todo mundo sabe: Jesus, The Smiths, Velvet, Dinosaur JR., etc. Hoje, é um mundo de coisas, nem saberia te dizer ao certo.
Desde criança eu sempre quis fazer música. Criar a "banda" foi uma decorrência natural. E uma coisa engraçada é que o Cigarettes tem essa coisa de nunca ter sido uma banda propriamente e ao mesmo tempo quem pode dizer que não é uma banda?
Lembro de um ensaio do Second Come que eu fui no início dos anos 90 e um show da Pelvs em 92 ou 93 que me estimularam muito a começar a mostrar as minhas músicas.
Q. Inevitavelmente a obra prima do Cigarettes é o Bingo, facil facil é disco de cabeceira pra um monte de gente. Conte-nos um pouco a respeito do disco..
MC: Quando o Bingo foi lançado em 1997, pouquíssimas pessoas gostaram. Ele é considerado um clássico hoje, quase vinte anos depois. Mas na época as críticas de uma forma geral não foram muito positivas. Aliás, pouco se falou do Bingo na época. Esse reconhecimento posterior me dá mais segurança e confirma minha convicção de que eu preciso continuar com a música.
Q. E o novo álbum, The Waste Land, quarto álbum nessa longa trajetória. Qual a grande diferença dele para o ultimo homônimo de 2012 que foi um lance colaborativo (eu mesmo participei).
MC:Acho que a grande diferença foi que eu consegui fazer o que eu queria. Entrei no estúdio e só saí quando o disco tava pronto. Isso de começar uma coisa e ficar esperando meses, anos, pra terminar é algo que não funciona mais pra mim, se é que já funcionou. Quero começar e parar só quando eu terminar. Acho que esse tipo de processo dá mais fluidez e verdade ao resultado. Considero esse o meu melhor disco, mas talvez leve um tempo pras pessoas concordarem comigo. Sobre o disco anterior, hoje eu considero ele um pouco "careta", mas isso tem a ver com o que eu consegui nesse último disco.
Q. Quais seus discos de cabeceira?
MC: Difícil essa. Muda tanto. Ainda mais com as formas de se ouvir música hoje. Gostei bastante dos últimos do Raveonettes e do Mogwai, mas acho que já faz um tempo que eles lançaram. Radio Dept., Slowdive e Suicide são bandas que eu sempre ouço também.
Q. Como é seu processo de criação e gravação?
MC: Como muitos, acredito um pouco que as músicas estão no ar e que nós somos meros canais ou antenas. Todo mundo que compõe, que produz, expressa uma verdade interior mas também um pouco, ou muito, do espírito do tempo a que pertence. Então, sobre o processo de criação, posso dizer que as ideias aparecem na minha cabeça e o meu trabalho é registrar isso, uma coisa meio mediúnica, rs. Quanto às gravaçoes, variam muito, depende do momento, do que é possível e do que é inviável. Já gravei em casa, em porta-estudio, em computador, já gravei em estúdio grande, sozinho, acompanhado, eu gosto muito de deixar rolar e ver o que acontece. Não sou muito de planejar. Acho que, em algumas situações, atrapalha muito, o lance, pra mim, é ver o que sai, qual ideia aparece, na hora que você tá fazendo, de preferência.
Q. O que você destaca atualmente no atual cenário alternativo nacional?
MC: Acho que nunca se produziu tanta coisa boa quanto agora. Existem muitas bandas boas, muita coisa boa sendo feita. Dá até uma certa angústia porque é impossível acompanhar tudo. Entre os mais próximos, eu destaco o Lava Divers de Uberlândia, a Laura Wrona de São Paulo e o Charllote's Suit, também de São Paulo, que está prestes a lançar um disco sensacional.
Q. O que podemos esperar para o futuro?
MC: O futuro a deus pertence, rs. Mas seja ele qual for, de mim, podem esperar muita música, sempre.
Q. A fatídica pergunta, considerações finais?
MC: Só quero te agradecer, meu amigo, por tudo que você tem feito pela música no nosso país. Parece exagero, mas quem acompanha seu trabalho com atenção, sabe que não é. Longa vida ao TBTCI e ao grande Malizia!
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Valeu Colares...