Você assim como eu, que se esbaldou por completo nos 90´s, guitar bands pra cima e pra baixo, shoegazer, guitarras, guitarras, ruídos, MBV, Pavement, Mercury Rev, Ride, Dinosaur Jr, Sonic Youth, e mais uma infinidade de bandas do coração como costumamos dizer.
Eu vivi o meio dos anos oitenta pra frente, mas a virada dos 80´s para os 90´s foi algo realmente que mexeu com a vida de todo mundo naquela época, esbórnia, alegria, descobrimentos, abusos....enfim a vida vivida com intensidade, e as bandas citadas serviram de trilha sonora pra quem viveu nessa aurea época.
Daí, em pelo 2012, pegar dar de cara com um album chamado Bloody, Fuzzy, Cozy dos caras do The Sorry Shop é um convite nostálgico e deliciosamente perfeito para quem não esteve lá sentir na pele o drama, canções grudentas, pegajosas, um convite pra praticar um air guitar daqueles caprichadíssimo fechando os olhos e sem se preocupar com porra nenhuma, mais um cigarro, mais uma cerveja e mais barulheira pra mente, assim é a TSS e seu maravilhoso Bloody, Fuzzy, Cozy, tal como o Yuck fez no ano passado, os caras pegam todas as sonoridades dos 90´s e fazem uma releitura digna de tirar sorrisos de qualquer um que aprecie, ou ame, ou idolatre esta ou aquela banda, o ponto aqui é que os 90´s venceram, e a TSS acertou em cheio, um dos albuns do ano facilmente.
Régis Garcia o responsável pela festa concedeu uma puta entrevista sensacional ao TBTCI que você vê ai embaixo, mas assim, antes, pega seu Bloody, Fuzzy, Cozy e entre no clima da TSS e viva os 90´s.
***** Interview with The Sorry Shop *****
Q. Como o TSS começou, conte-nos a historia
A TSS começou no meu quarto, em noites de insônia e tardes de inspiração. Eu sempre tive vontade de fazer umas coisas como tenho feito com a TSS, mas aqui onde moro (interior do Rio Grande do Sul) era bem complicado achar gente pra fazer esse tipo de som. Na época eu estava tocando com um cara (o Luiz Young), que tinha uns projetos muito legais sempre. Na banda dele estava o Marcos, que é o vocal principal da The Sorry Shop. Eu sabia que eles curtiam a ideia das músicas e, assim que compus uma primeira leva, convidei eles pra ouvir. Primeiro convidei o Marcos Alaniz, que cantou com um baita prazer. Eu tinha gravado tudo – bateria, baixo, guitarras – mas vocal não, tento passar longe (fiz o vocal da “Bloody, Fuzzy, Cozy” no disco, mas não acho que vá repetir a dose em outras músicas). O Marcos fechou demais com a banda, em todos sentidos. Aliás, eu nem queria ter a banda em si. Eu sempre acho que é um baita estresse ter uma banda. É muita cabeça pensando junto e muito compromisso pra administrar em uma empreitada que é sempre complexa por inúmeros fatores que todos nós da música bem conhecemos. Por isso gravei tudo sozinho (exceto vocais, que, além do Marcos, foram da Mônica) no EP (Thank You Come Again, de 2011) e depois no full (Bloody, Fuzzy, Cozy, de 2012). Mas o projeto foi tomando um contorno interessante e, felizmente achei caras como o Duda, o Rafa e o Kelvin pra fazer esse barulho comigo. São boas cabeças, ótimos amigos e grandes músicos (o Duda e o Rafa foi um combo fácil, tocam juntos faz tempo e veio meio pronto o negócio. O Kelvin é aquele tipo de músico formidável, dedicado, humilde pra cacete e criativo demais, além de ter uma cabeça muito aberta aos sons novos). Hoje a banda é banda e não abro mais mão disso. Apesar de continuar tendo uma inclinação bem grande pra botar mão em todos os arranjos e instrumentos das coisas que temos feito, faço questão que a coisa seja uma obra coletiva a partir de agora.
Q. Quais as influencias?
Eu sempre escutei muita coisa da década de 70 e 80, mas minha formação musical, a identidade musical, é “noventista”. Além de ter escutado muito rock gaúcho por conta da relação direta com os sons que rolavam por aqui, e além de ter passado um bom período com Pink Floyd, Led, Sabbath, Queen e afins na vitrola, sempre gostei mesmo dos sons mais barulhentos. Escutei muito Faith no More, que continua sendo uma das minhas bandas favoritas, mas pra The Sorry Shop ressuscitei umas coisas que ouvia enquanto aprendia o que era música. O Pavement foi a base de tudo, junto com o Built to Spill. Essas duas bandas foram muito importantes pra mim. Além disso, o MBV e o Sonic Youth foram importantes pra esse disco da TSS, assim como o Yuck, que foi a grande mola propulsora pra querer fazer esse som. Tem bandas que também sempre estão no som, como Joy Division, Jesus and Mary Chain, Talking Heads, The Cure e por aí vai. Ultimamente tenho escutado o Ringo Deathstarr, A Place to Bury Strangers, Asalto al Parque Zoológico e DIIV. Somos bem ecléticos. O Marcos, por exemplo, é fãzão da Silver Jews, enquanto o Kelvin começou tocando Offspring. O Duda vai de rock clássico e curte um monte o Queen, por exemplo. O Rafa é fã de Pearl Jam, coisas de delay do Radiohead e uns Neil Young, além de escutar um monte os caras como o Gary Clark Jr. Fora isso, sempre que componho tem uma boa influência de cinema e literatura.
Q. Como vocês definem a sonoridade da banda?
Eu sou péssimo pra definir coisas, sempre encontro uma aresta ou uma linha que ligue o som com outra coisa e que ofereça impossibilidade de identificar a proposta geral como um lance só. Nós temos aceitado bem a definição que tem rolado pra TSS, que é o shoegaze. Volta e meia penso nisso, a gente conversa sobre o assunto, mas não chega a uma conclusão. Tem coisa animadinha demais, mais crua mesmo, pra estar num patamar de shoegaze. Eu costumo chamar de alternativo, lo-fi e por aí vai. Mas gosto de pensar que tem relação com uns sons britânicos alternativos, com o próprio shoegaze, com dream pop e assim por diante. Definitivamente não dá pra classificar só como rock and roll, isso é certo. Pra ser mais exato e mais sinestésico, o som da TSS é áspero, mas não é tão agressivo que assuste. É um barulho ameno com um punhado de reverb e umas melodias de fácil acesso auricular.
Q. Como é o processo de composição e gravação?
No início, como eu expliquei antes, era tudo por minha conta: eu acordava no meio da noite, pegava a guitarra, gravava uma linha (num take só muitas vezes, com o olho ainda meio fechado do sono) e depois, com mais tempo, ia adicionando outros instrumentos e outras camadas. Tenho um punhado de parafernália de gravação caseira e deixo disponível em tempo integral pra quando a ideia aparece. Dificilmente me policio pra gravar, acho que nunca determinei um dia e um horário pra fazer essa função. Vou deixando a coisa correr solta. Existem finais de semana em que chego a perder os dias de vista. Se a coisa tá legal, vou arranjando as músicas e adicionando detalhes (e excluindo detalhes e instrumentos) e só paro quando estou satisfeito ou cansado demais. Tem músicas e arranjos completos que foram feitos em uma hora ou algo assim, enquanto outras foram feitas, desfeitas e refeitas em um ou dois meses. Não tem regra. Normalmente vou conversando com a Mônica e com o Marcos, pedindo opinião e já traçando as ideias pros vocais. As letras, a maior parte, são de responsabilidade do Marcos. Pra gravar os vocais, sim, temos um tipo de cronograma. Na verdade é uma pseudo-organização. A gente combina um horário, se encontra e grava. Se não rolar, a gente tenta de novo depois (mas sempre rola). Com a banda existindo e ensaiando, a gente tem composto muita coisa em estúdio, mas sem forçar a barra. Se aparece uma linha de baixo, de guitarra, uma levada legal ou uns indícios de vocal, a gente usa o tempo junto pra arrumar a coisa. Se não aparecer nada, a gente segue tocando o que já existe. Ainda não sei – e não sabemos – como vamos nos organizar pra gravar o segundo disco completo. Já tem uma boa parte escrita, arranjada e até música completa gravada por mim, mas temos pensado em dar novos formatos, adicionar elementos e botar mais mão de todo mundo na coisa final. Mesmo assim, não vamos ir pra estúdio gravar. Gosto de fazer em casa, não me preocupa tanto o resultado final em termos de primazia de som. Quero a coisa por ser a coisa, pela intenção da música, não por estar bem enfeitada ou com cada frequência no lugar certo. Gosto das frequências no lugar errado. Eu acho que tenho umas deficiências auditivas consideráveis pelos anos consecutivos de pauladas sonoras nos ouvidos. Então, é muito possível que algumas coisas que agradem meus ouvidos soem estranhas pra quem tem ouvido bom. Mas eu faço com meu ouvido e o ouvido dos caras que estão comigo aqui. Se nos agradar, está valendo.
Q. Como é a sensação de tocar ao vivo?
Pra mim é um pouco ambivalente. A parte ótima é estar com o pessoal que curte fazer o mesmo ruído que eu e fazer em alto e bom som. Sempre dá um frio na barriga, é sempre um bocado emocionante – sem querer se piegas – escutar a coisa tomar forma ao vivo, principalmente quando está coesa o suficiente pra não parecer um monte de coisas separadas e legais, mas pra parecer uma coisa só onde não seja fácil perceber o que é que vem de que lugar. Gosto assim, massudo, meio hipnótico e inebriante. Gosto de me sentir assim. A parte não tão boa é a função toda do tocar ao vivo. Somos todos músicos por prazer, mais do que por outras coisas. Isso significa que temos outros compromissos, quem nem sempre facilitam as nossas possibilidades de tocar por aí. Nesse sentido, por ser complicado achar espaço e tempo pra tocar, sempre que rola algo acabamos ficando bastante ansiosos, querendo que cada show seja um grande evento. Nem sempre é, e aí rola uma frustraçãozinha. De qualquer maneira, a parte boa de tocar ao vivo sempre sobrepõe todo resto.
Q. Se voces fossem gravar uma cover, qual seria?
Nós acabamos gravando uma cover de Wilco – “Heavy Metal Drummer”, que por sinal tem uma letra (ironicamente) tudo a ver com a gente, principalmente com o Marcos, o nosso vocal, que já foi baterista de uma banda de metal – em um tributo que foi organizado pelo Luiz Young. Foi esse ano, saiu com o nome de Yankee Hotel Foxtrot Tribute – A box full of versions. Foi um convite bacana, mas não foi uma cover premeditada. Esses dias a gente conversava (eu e o Marcos) sobre tentar gravar algo do Silver Jews. Mas havendo possibilidade real, acho que eu gostaria de gravar um Pavement, ou fazer uma versão legal pra algo do Tom Waits, a la Ramones. Quem sabe até um Ramones.
Q. Quais os planos para o futuro?
Não deixar a peteca cair. É sempre complicado passar pro segundo disco, administrar tudo que já foi feito e organizar tudo que está sendo feito. A curto prazo, queremos chegar até São Paulo, passar por lugares bacanas, fazer o maior número de shows pelo Brasil e, quem sabe, por alguns pontos de contato do extremo sul do país, como Argentina, que tem um público muito legal pro tipo de som que a gente faz. Além disso, queremos lançar de vez o segundo full. Gostamos muito de produzir e, de certa maneira, é muito mais confortável que tocar ao vivo.
Q. Alguma mensagem para o mundo?
Esqueça um pouco do que sabe todo dia. Um pouco de inocência sempre faz tudo ficar mais divertido.
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Valeu Régis.....valeu TSS
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