quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dreamland with Low Dream - An Interview


Houve uma época que as coisas eram realmente vividas intensamente, desde um pequeno rolezinho de skate, até uma noitada insana testando todos os limites, assim eram os grandiosos idos da vira dos 80´s para os 90´s, inferninhos as pencas, mas quando você lê inferninho não tente nem comparar o que existe hoje seja na Augusta, Barra Funda, ou qualquer cidade que você viva, os inferninhos daquela época tinham uma característica especifica, as paredes suavam, e quando as paredes começavam a interagir com o povo todo dava pra sentir o tamanho do negócio.

A primeira geração das famosas guitar bands nacionais tinha, os Pin Ups, Killing Chainsaw, Second Come e a mais inglesa de todas, a Low Dream, virou até jargão depois de 20 anos, chamar a Low Dream com esta alcunha, mas era inevitável, o baterista Giovani era um destruidor de kits, eu o vi em ação pelos menos umas meia duzia de vezes e sempre ficava perplexo vendo o que o moço fazia, me lembrava pra caralho o Loz do Ride, simples assim. Samuel, o cara do baixo, tinha aquele ar timido, mas seus poderosos acordes sustentavam por vezes a agressividade por oras a beleza e a candura da música da Low Dream, por fim Giulliano, ar blasé como deve ser, the coolest guy, era simplesmente energizante ver a Low Dream.

Lembro da primeira vez que tive contato com os caras, foi creio que em 1992 ou 1993 não me lembro ao certo, também pudera, 20 anos testando os limites, uma hora ia dar nisso mesmo, mas era uma quinta feira qualquer, a Low Dream abriu para o Pin Ups em sua formação Gash, e veio a banda de Brasilia que tinha a tal famosa demo que continha Treasure, eu tinha que ter aquilo, e logicamente que naquele dia o cassete era meu, foi um puta show, de ambas as bandas diga-se de passagem, mas ainda havia a sexta feira, e o show agora seria no Cais com abertura das Cold Turkeys, puta que pariu, que show, que noite, o camarim era algo assim digamos não recomendado a menores de 18 anos, extremamente pesado!!!hahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha.....e nós adoravamos tudo aquilo!!!!

Desnecessário dizer sobre a sonoridade da Low Dream, é fato que MBV, J&MC, Ride, HOL, tá tudo definitivamente fincado no som deles, o fato é que escutando Between My Dreams and The Real Things hoje depois de tantos anos e sentir o frescor do album é simplesmente espetacular, como diz a letra "...there´s a treasure behind the sun..." ah com certeza existe, ou ainda ouvir o segundo e caprichadissimo Reaching From Ballons me faz chegar a conclusão que a Low Dream estava logicamente a frente de seu tempo, ou melhor estava sintonizada em seu tempo e como um bom vinho permanece ainda mais saboroso depois de 20 anos.

E para comemoração total primeiramente do TBTCI e logicamente para todos, a possibilidade real de shows da Low Dream com sua formação original esta mais próximo do que imaginamos, é uma questão de bom senso, e isso, ah bom senso o TBTCI até tem, mas ele tem mais do que isso, tem simplesmente um Rocker Ride pela frente....que venha a Low Dream para nosso deleite.

E logicamente o TBTCI traz a desde já histórica entrevista de Giulliano avaliando os 20 anos dessa terra dos sonhos que é a Low Dream.

***** Interview with Low Dream ******

                                 

Q. Quando a Low Dream começou? Conte-nos a historia
A banda começou entre o final de 1991 e início de 1992... Na realidade a gente, eu e meu irmão, tínhamos formado algumas bandas fictícias antes com outros nomes. Mas foram apenas experiências sonoras com amigos. A partir da entrada do baixista Samuel Lobo que nós começamos o projeto Low Dream.

Q. Quais as influencias?
Foram muitas influências e referências para a formação do nosso som. Acho que posso citar algumas bandas dos anos 60, principalmente The Velvet Underground, algumas bandas punks, e nomes como The Smiths, Joy Division, The Jesus & Mary Chain, The Telescopes, My Bloody Valentine, The House of Love, Spacemen 3, Verve, Stereolab, Mercury Rev e The Flaming Lips... Mas gostávamos de muitas bandas e cada integrante tinha suas preferências sonoras.

Q. Como vocês definem a sonoridade da banda?
Essa coisa de definição nunca foi nosso forte. Cada hora a gente inventava um termo para a imprensa explicar nosso som. Era algo divertido. Nosso som sempre foi uma mistura de noise (barulho) extremo com melodias delicadas. Algumas vezes podia ser uma muralha sonora e outras algo muito limpo e suave, dependendo do que nós pretendíamos naquele momento para cada música.

Q. Como era o processo de composição e gravação?
Eu iniciava o processo de criação dos acordes para uma melodia. Em seguida os outros construíam suas partes individuais e tudo ia se encaixando. Ao mesmo tempo eu ia fazendo as melodias vocais e escrevendo as letras. Era algo bem natural. Não era como colocar uma bola no lugar de um triângulo. Nunca foi isso.

                                                   

Q. Between My Dreams And The Real Things ou Reaching From Ballons?Qual a importância de cada um dos albuns na opinião de vocês?
Between... Foi um disco difícil de gravar. Assinamos contrato com a gravadora "independente" Rockit, do Dado Villalobos, da Legião Urbana, e gravamos o disco em um estúdio brasiliense, mas com pouca experiência. Tínhamos as músicas, mas gravar isso era complicado. Sofremos bastante por causa da inexperiência. O disco atrasou bastante porque houve um problema com a parte gráfica... Outro fator que nos atrapalhou foi a dificuldade do mercado brasileiro para lidar com uma banda que cantava em inglês naquela época (1994/1995). Mesmo assim o disco marcou uma fase e tinha ótimas músicas, eu acho.

Já o Reaching... Gravamos de forma completamente independente mesmo no esquema punk tipo do it yourself... Mudamos de estúdio, gravamos música por música e fomos finalizando ao mesmo tempo que fazíamos os shows da banda. Foi um processo bem menos complexo e que nos trouxe mais felicidade. O resultado até hoje nos agrada muito. As músicas ficaram mais naturais e a banda evoluiu durante as gravações. A partir daquele momento estávamos prontos para um desafio ainda maior... É um disco incrível.

Q. Como era a sensação de tocar ao vivo?
Os shows podiam ser fantásticos ou verdadeiros pesadelos. Isso dependia muito dos locais, da acústica, dos equipamentos disponíveis no palco e até mesmo do humor dos integrantes no palco. Talvez esse último fosse o grande fator que fizesse a diferença. Mas era relativo. Fizemos shows que achamos horríveis e foram bastante elogiados pelo público e pela crítica e outros que achamos perfeitos que foram detonados pelas pessoas. Claro que era mais interessante quando as opiniões sobre um determinado show convergiam. De qualquer forma, tocar ao vivo era a hora do espetáculo e de ter a resposta do público para nossa música. Sempre achamos importante fazer shows e a grande maioria das vezes saimos do palco felizes e sorrindo.

Q. Como vocês lidam com o culto em torno da Low Dream?
Eu sempre neguei a existência desse "culto". Algumas vezes isso chegou a irritar. Era chegar em algum show e alguém falar sobre a banda, perguntar sobre possíveis shows, músicas, etc. Mas depois de um tempo percebi que era natural isso, então sempre respondia de forma mais empolgada e algumas vezes como se fosse alguma brincadeira para divertir a situação. É engraçado que mesmo depois de tanto tempo, a banda seja lembrada. Mas isso nos deixa felizes porque percebemos que as pessoas lembram como algo bom, algo que era mágico de alguma forma. Isso nos deixa orgulhosos e felizes. Somos gratos a essas pessoas.

Q. Porque a Low Dream terminou?
A Low Dream terminou por uma série de fatores, entre eles a falta de estrutura do mercado, das casas de shows, das gravadoras, para trabalhar com nosso tipo de música no Brasil. Temos que lembrar que era uma época sem internet ainda e com muita dificuldade para fazer nosso trabalho da melhor forma. Isso foi nos desanimando até que resolvemos fazer outras coisas das nossas vidas porque nos tornamos pesos insuportáveis para nossas famílias. Um artista vive de sua arte e nós não estávamos conseguindo viver dela. Foi muito triste ter que parar com tudo e seguir por outro caminho. Não houve briga e a amizade entre os integrantes é grande até hoje.

                                 

Q. Certamente vocês devem ter recebido inúmeros convites para voltarem durante todos estes anos, porque até o momento nunca aconteceu?
Realmente recebemos inúmeros convites para a realização de "um show". Mas as condições para que ele fosse feito nunca foram reais e satisfatórias. Uma reunião da banda é algo que envolve uma logística muito complexa, já que um guitarrista não mora em Brasília. Além disso, temos trabalhos pessoais diferentes, não ensaiamos com regularidade e nem possuímos mais instrumentos. Se formos fazer um show, queremos fazer algo realmente bom, que nos deixe felizes e todos que estiverem presentes. Sem dúvida queremos que seja algo emocionante para a banda e para o público, então precisamos de condições favoráveis para isso.

Q. Quais os planos para o futuro? Existe a possibilidade de que o burburinho sobre possíveis shows da Low Dream agora realmente possam vir a acontecer?
Existe essa possibilidade real de um ou mais shows porque resolvemos ouvir as propostas com mais atenção. Todos os integrantes originais da banda já sabem desta possibilidade e estão animados com a possibilidade de voltar aos palcos, mesmo que seja para uma única vez. Agora é preciso conversar com produtores, ouvir o que nos oferecem e explicar o que a banda precisa para que o show aconteça. Estamos tranquilos e torcendo para que isso finalmente se viabilize em breve.

Q. Alguma mensagem para os antigos e novos fãs?
Obrigado por nunca desistirem da gente. Esperamos um dia retribuir isso com pelo menos um show fantástico para todos. Estamos entre os sonhos e as coisas reais. Keep rockin'
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Obrigado Giulliano, vida eterna a Low Dream!!!!